Artigo: Desregulamentar profissões. Todas! (O Estado de S. Paulo)
Autor: Alexandre Barros
21/07/2009 - O governo anunciará em breve a proibição de carros pequenos com motores de menos de 2.0 e serão obrigatórios transmissão automática, computadores de bordo e airbags sêxtuplos. Que tal lhe pareceria essa notícia? Fords Ka, Fiats Palio, Fords Fiesta sumiriam do mercado. Todos os carros custariam muito mais caro. Adeus ao sonho do carro 1.0, sem imposto. Seria uma crise nacional.Mas não causa crise sermos obrigados a pagar a um médico formado numa faculdade, que estudou seis anos, para girar lentes na frente do nosso rosto e nos dizer que temos 2,5 graus de miopia. Ou pagar a um médico a taxa de carta de motorista, para nos mandar ler algumas letras na parede. Nem causa espanto que precisemos pagar a advogados, formados por cinco anos, para nos tirarem da cadeia, coisa que um estudante de Direito do primeiro ano sabe fazer, ou até mesmo quem nunca estudou Direito.Escrevi, nos anos 70, um artigo chamado Em defesa dos advogados, publicado no Jornal da Tarde. Dias depois chegou pelo correio (a vida era assim antes daquele menino maluquinho e irresponsável, William Gates III, que abandonou a faculdade) cópia de carta do presidente da OAB de São Paulo protestando e explicando detalhadamente por que a regulamentação exercida pela OAB era fundamental para a defesa dos interesses dos possíveis clientes. Mas a carta não falava nada sobre a obrigação de pagar mais caro por advogados que estudaram cinco anos para prestar serviços corriqueiros sem complexidades ou consequências jurídicas maiores. A resposta: custa muito caro porque, quando pagamos a um advogado, temos de ressarci-lo pelos anos de estudos de Direito e pagar um naco das mensalidades da OAB, que é um sindicato que defende mais os interesses dos advogados que o dos clientes.Desregulamentar a medicina? Certamente. Faço palestras em que proponho a desregulamentação da medicina. A reação das plateias é de horror. Mas como? É a nossa saúde que está em jogo!Imediatamente depois da reação, mas ainda durante o pânico, peço que levantem a mão todas as pessoas que utilizaram (ou seus parentes próximos) tratamentos alternativos, como cromoterapia, florais de Bach, aromaterapia, cinesiologia, hidroterapia, iridologia, quiropracticia, etc. Sempre mais de metade das audiências levantou as mãos. Ou seja, as pessoas acreditam em terapias alternativas, usam-nas em substituição à medicina e muitas depositam a continuidade de sua vida nelas (como quem se trata de câncer com extratos de sementes de pêssegos). Mas, quando perguntadas, a maioria diz-se a favor da regulamentação da medicina.Bem-vindos ao mundo das profissões regulamentadas. O Cialis, o maior concorrente do Viagra para disfunção erétil, custou ao laboratório que o inventou, desenvolveu e comercializa entre US$ 600 milhões e US$ 800 milhões antes da venda do primeiro comprimido. Foram centenas de cientistas, pesquisadores, bioquímicos e milhares de testes exigidos pela FDA (a Anvisa americana). Cada vez que compra uma caixa de Cialis, você paga por todos esses custos. Mas há um, inútil, que você paga e não se dá conta: o salário da farmacêutica responsável da filial da empresa que produz o Cialis no Brasil. Ela entra na produção do Cialis como Pilatos no Credo, sem ter nada que ver com os benefícios do remédio. Ela só está lá porque os farmacêuticos (como todos os outros profissionais regulamentados) conseguiram que o Congresso Nacional votasse uma lei obrigando todos os laboratórios a terem um(a) farmacêutico(a) responsável, e também cada farmácia a ter um(a) farmacêutico(a) para lhe vender a caixinha dos comprimidos mágicos (ou de qualquer outro remédio que você queira comprar).José Zanine Caldas, famosíssimo arquiteto autodidata, desenhou e construiu algumas das mais caras e belas casas do Joá e da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Quem as comprava pagava por sua competência e seu bom gosto, mas um naco era para o engenheiro formado, cuja única função era assinar a planta. Zanine foi professor na Universidade de Brasília. Hoje não poderia, porque não tinha diploma.Em resumo, não ganhamos nada com profissões regulamentadas. Só ganham os profissionais que fazem parte delas.Sou contra as faculdades? Não (vivo, em parte, de ser professor). Mas acho que todos devem poder contratar, para qualquer serviço, o profissional em quem confiam, independentemente de ter ou não um diploma e/ou um registro profissional.Quando regulamentam profissões, parlamentares caem na esparrela de acreditar que estão defendendo o público. Potoca. Estão apenas defendendo um mercado cativo para grupos politicamente organizados que buzinaram nos seus ouvidos que eles deviam regulamentar alguma profissão.O problema não é só brasileiro. Todos os prédios que você vê ao vivo em Las Vegas, ou no seriado CSI, foram construídos por pessoas de bom caráter. Pedreiros, no Estado de Nevada, precisam apresentar um atestado de bom caráter, além de saber empilhar tijolos.Uma lei de 1952 proibia comunistas de serem farmacêuticos no Texas e, no Estado de Washington, veterinários eram proibidos de tratar de vacas enfermas se não assinassem um juramento anticomunista.Há no Congresso brasileiro 169 projetos de regulamentação de profissões. A cada um que for aprovado você pagará mais caro por aquele serviço, em troca de proteção zero. Regulamentações profissionais só protegem os prestadores de serviços e excluem concorrentes que poderiam prestar os mesmos serviços, só que mais barato.Acabou de ler o artigo? Não tem nada que fazer? Entre no YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=B6vOChhue20). E ouça o hino do farmacêutico.Parabéns! A conta é toda sua, inclusive a do hino. Alexandre Barros, cientista político (Ph.D. pela University of Chicago), é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Oportunidade e Risco Político
quinta-feira, 23 de julho de 2009
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4 comentários:
Marcio Antonio da Fonseca e Silva.
Farmacêutico CRF3132 e Cidadão Brasileiro.
Prezado colega e amigo Danilo,
Fiquei muito p. e assim respondi. Abs. Marcio
PS: Nada tenho contra "cientista político".
Sobre esta matéria atribuida ou assinada pelo Sr Alexandre Barros,cientista político fico muito preocupado.
Na minha modesta insignificância assim me manifesto:
A Castanha,o fogo, o gato e os oportunistas.
Todos os brocardos populares são sapientes,saborosos e perspicazes,todavia nunca se aplicou tão bem à este.
1-Com o avanço da tecnologia afirmarmos que deveremos acompanhar e melhorar o ensino nas Universidades Públicas e Particulares é notório.
2-Que independente de disputas partidárias os Governos Estaduais e Federal vem fazendo é rotineiro;
3- Não acredito que uma pessoa intitulada Ph.D pela Universidade de Chicago tenha essa opinião a respeito do assunto.Exemplos:em um exame de alta complexidade, uma cirurgia, ( poderia ser efetuada por um açougueiro ?) Em uma disputa jurídica poderia ele nomear um leigo em direirto ? .No passado os barbeiros faziam as vezes dos atuais e competentes cirurgiões dentistas.Notório ainda afirmar o desenvolvimento dos arquitetos, engenheiros e agronomos.Os farmaceuticos produzindo e dispensando medicamentos. Os enfermeiros, assitentes sociais, psicológos, veterinarios e tantos outros que vem se dedicando ao desenvolvimento do nosso Brasil
4- Os Conselhos Regionais e Federais das profissões vem cumprindo suas missões.No meu caso como farmacêutico, acompanho de perto o desempenho do regional e a incansável luta do Conselho Federal de Farmácia para melhoria da saúde pública do nosso país
4- Até hoje (estou com 68 a) não sei para que serve a profissão de "Cientista Político"
Concluindo:
Tirar a castanha do fogo com a mão do gato. Brocardo Acaciano sem dúvida ,mas poucos descrevem com tão precisa malícia, a matreirice dos que deveriam defender e nos ajudar a conduzir com independencia o nosso Brasil. Ao inves disso desejam usufruir do êxito sem arcar com o ônus.
Marcio Antonio da Fonseca e Silva.
Farmacêutico CRF3132 e Cidadão Brasileiro.
Aos leitores deste artigo:
O debate é mais significativo que se imagina.
Quantos de vcs tem acesso a internet? 100% e destes, claro para conseguir ler este artigo 100%.
Agora imagine que esta população é a minoria da população... e teoricamente teria acesso a informação... o "expert" político e informado saberia dizer as incompatibilidades, posologia, efeitos adversos, riscos possíveis, etc, dos medicamentos que o próprio cientista politico que quer ser atndido por um balconista que leu meia duzia de bulas e que considera vender um tomate igual a vender um cardiotônico.
Quem orienta a população sem informação comentada no início do debate? Pergunto a este dito cientista: alguma vez ficaste em filas de hospitais públicos para ser atendido em 3min saindo do consultório munido de apenas um nome estrenho rabiscado em um papel sem saber a quem recorrer?
Quando isso acontecer recorra ao farmacêutico que estará disposição de forma ética pois é um profissional qualificado e regulado por um conselho profissional.
Saudações farmacêuticas.
Faço minhas as palavras (item 3) do farmacêutico Marcio Antonio da Fonseca e Silva, parabéns.
Sara R.Corrêa da Costa CRF/PR 17993
Padeiros deveriam vender medicamentos, pois seria apenas entregar a "caixinha".Que absurdo
Isso Ai alexandre porque não demite os farmacêuticos da Teuto já que você trabalha nela e diz que ninguém faz nada?
A o cialis você encontra no centro do Rio de Janeiro o produzido no paraguai sem responsável técnico, vai lá comprar uns? é cerca de 75% mais barato que o cialis vendido na farmácia, porque nele não está incluindo o salário do inútil farmacêutico. Toma ele e me diz o que acontece? ok?
Isso ai , mais me pergunto um farmacêutico poderia ter salvado a vida domeu avó que tomou dois medicamentos que faziam interação e causou uma grave hemorragia. Infelizmente no SUS não temos farmacêuticos em todas as unidades. Agora um ciêntista político salva a vida de alguém? perai. Afinal de contas, para que serve um cientista político?
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